Quando falamos em sustentabilidade é inevitável pensarmos no setor dos transporte e em mobilidade. O setor dos transportes é um dos mais impactados pelas recentes inovações tecnológicas tendo em vista a introdução de formas de mobilidade com menor impacto ambiental.
Os transportes são responsáveis por perto de 30% das emissões de dióxido de carbono na União Europeia, uma fonte significativa de poluição atmosférica, com a libertação de matéria (como o dióxido de azoto) prejudicial não só para o ambiente, para o aquecimento global mas também para a saúde humana, especialmente nas zonas urbanas.
Segundo a Agência Europeia do Ambiente os transportes rodoviários motorizados (carros, autocarros, camiões e motas) são responsáveis por 72% das emissões globais de gases com efeito de estufa, provenientes do setor dos transportes. O restante está associado aos transportes marítimo e aéreo. O transporte ferroviário e os modos suaves são as soluções de mobilidade mais “amigas” do ambiente. O tráfego rodoviário é ainda uma fonte de poluição sonora, um problema de saúde ambiental que afeta mais de 100 milhões de pessoas em todo o mundo.
A crescente necessidade global de mobilidade e de utilização de transportes traz, assim, a necessidade urgente de se encontrarem soluções capazes de assegurar uma mobilidade sustentável para todos: menos poluente, segura e mais eficiente.
A World Business Council for Sustainable Development (WBCSD) explica o conceito de mobilidade sustentável como a capacidade de dar resposta à necessidade da sociedade deslocar-se livremente, aceder, comunicar, transacionar e estabelecer relações, sem sacrificar outros valores humanos e ecológicos no presente e no futuro. Para tal, é necessário a integração de um sistema de transportes sustentáveis, que responda às necessidades de mobilidade da sociedade, em segurança, minimizando o impacto na saúde humana e no meio ambiente, contribuindo para o desenvolvimento económico e territorial equilibrado.
No entanto, ainda são muitos os desafios que enfrentamos para a transição para uma mobilidade mais sustentável, nomeadamente, será ainda necessário:
- Projetar sistemas de transporte público mais eficazes, justos, seguros e protegidos, integrados com serviços de mobilidade (Mobility As a Service).
- Construir mais infraestruturas sustentáveis — físicas e digitais — em quantidade, para apoiar soluções de mobilidade inovadoras quer no setor público quer privado.
- Apostar no processo de eletrificação da mobilidade com energias renováveis, pois só assim se conseguirá assegurar que a solução é de facto sustentável.
- Desenvolver ações de comunicação e sensibilização para alteração de hábitos, padrões e consumos de mobilidade e combater a resistência à mudança: as pessoas estão acostumadas com os sistemas de transporte existentes e são resistentes à adoção de novas tecnologias ou mudanças nos hábitos de mobilidade.
- Eliminar barreiras regulatórias para a plena adoção de veículos elétricos, partilha de carros ou o uso de bicicletas.
- Melhorar a integração de modos de mobilidade.
- Melhorar a gestão do tráfego nas cidades, considerando não só os problemas tradicionais mas também a integração de veículos autónomos e outras tecnologias inovadoras.
- Melhorar a segurança dos utilizadores nos modos suaves, mais sustentáveis. Veja-se a recente proibição do uso de trotinetas na cidade de Paris.
Vários países já se comprometeram com datas para proibir a vendas de carros a combustíveis fósseis, nomeadamente a Noruega, já em 2025, o Reino Unido e a Holanda a partir de 2030 e a França até 2050. A Alemanha apesar de não ter definido uma data específica para proibir carros a combustíveis fósseis, está a promover a transição para veículos elétricos através de incentivos para a compra dos mesmos.
Para ultrapassar esses desafios, é necessário o compromisso de governos, empresas, comunidades e indivíduos para promover políticas públicas, investimentos em infraestrutura, pesquisa e desenvolvimento de tecnologias e ações de consciencialização que incentivem a transição para sistemas de transporte mais sustentáveis. Em Portugal, muitos dos apoios do PRR e do recém lançado Portugal 2030 estão a ser canalizados para a mobilidade sustentável, tendo em vista os compromissos assumidos pelo país no Acordo de Paris das Nações Unidas e ao nível do Green Deal, na UE.
Cristina Ferreira, Managing Partner da Brighten Strategy & Operations